O conceito de natureza humana e raças em kant e forster







O conceito de natureza humana e raças em Kant e Forster



PROJETO DE ORIGEM:
As Antropologias em Kant


PLANO DE TRABALHO DE PESQUISA DO ALUNO
PIBIC 2011-2012



SUMÁRIO


2.     Objetivo.............................................................................................................. 4
3.     Roteiro de atividades do aluno..................................................................... 5
4.     Cronograma...................................................................................................... 5





1.           Introdução e contextualização


A presente pesquisa visa estabelecer uma reflexão acerca dos conceitos de natureza humana e raça segundo Kant e Forster, bem como determinar o conceito de raça em ambos os pensadores. Também, é intenção desta pesquisa verificar se é possível uma exatidão conceitual (sobre raças) dentro do gênero humano.
Para efetivar esta pesquisa serão utilizadas, primeiramente, as seguintes obras de Kant: Das diferentes raças humanas (1775), Antropologia de um ponto de vista pragmático (1798) e Algo mais acerca das raças humanas (SANCHES, 2002).
Kant se apóia na teoria de Georges Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788), que sustenta que “a unidade do gênero físico (natural) dos animais se baseia na sua capacidade de procriação conjunta de crias férteis”.[1]. Kant defende, também, que há apenas um gênero humano, que não abarca espécies diferentes e que descende de um único tronco ou gênero fundamental[2]. Leclerc desenvolveu uma teoria de que as combinações e permutações em raças devem, eventualmente, produzir uma variedade infinita de criaturas viventes, algumas delas bem melhor adaptadas a sobrevivência do que outras, tendo observado, inclusive, a possibilidade de algumas espécies extinguirem-se como um resultado de uma “revolução” sobre a face da terra ou competição com a chegada posterior do homem.
Em vista disso, Kant pode ser classificado como um monogenista[3], sendo que ele concordava enfaticamente com Leclerc de que a relação genética era a chave para a história natural, quando esse dizia que a humanidade constituía um grupo relacionado, pois todos os tipos de seres poderiam se procriar e produzir descendentes férteis[4].
Inicialmente, o filósofo alemão[5] propõe que a distinção entre as raças humanas seria provocadas por certos fatores climáticos, como o ar, o sol e a qualidade do solo (umidade ou aridez), que seriam entendidos como agentes causadores de distinções hereditárias. Kant, porém, não atribui diretamente a esses agentes a diferença propriamente dita entre as raças, mas sim que tais distinções se devem tão somente ao desenvolvimento ocasional motivado pelos mencionados agentes externos (germes), e predisposições naturais presentes no homem[6].
Segundo Kant[7], há no homem, assim como em todos os animais e plantas, predisposições naturais, como um cuidado preventivo da natureza, com o intuito de preservá-los e adequá-los à diversidade do clima e do solo. Outra afirmação é que todas as derivações carecem de um gênero originário que se considera extinto, já que é impossível encontrar, em qualquer parte do mundo, a figura humana primitiva inalterada e, justamente devido a esta inclinação da natureza para se adaptar, a humanidade permanece em toda parte marcada pelas modificações locais.
Neste sentido, os “germes” se desenvolveriam conforme a região, porém como explicar a permanência dessas mesmas características em migrações ocorridas para outras regiões?

Quando a natureza pode agir sem quaisquer obstáculos, durante várias gerações, acaba sempre por gerar uma linhagem duradoura que passa a caracterizar para sempre as populações, e que poderia ser designada de raça, se aquilo que possui de característico não parecesse ser excessivamente insignificante para que nele se possa fundar um grupo distinto.[8] (Santos apud Kant, p.105).

Para Kant só a morfologia[9] originária poderia degenerar numa raça, e, quando essa já se estabelece, resistiria a qualquer transformação, pois seu caráter já se tornara predominante, ou seja, a razão pela qual as características de raças se adaptam de forma perfeita à divisão em classe (branco, indianos, os negros e os americanos vermelho-acobreados), se dá, em primeiro lugar, ao fator do local de residência (separados dos outros por regiões) e a segunda razão seria a própria adequação, já que a criatura transplantada para qualquer clima ou zona territorial e afetada pelo ar ou solo, deve sobreviver de maneira menos artificial possível, justificando a cor da pele como o fator de classificação onde a diferença é visível e aparece como uma separação hereditária natural.
Forster concorda com Kant[10] em relação às diversas formas humanas e acredita que existe um atributo hereditário permanente, o qual, porém, pode ser igual a todas as diferenças do gênero humano, ou seja, são influenciadas por circunstâncias externas.
Outras diferenças aparecem entre os dois[11] pensadores, como por exemplo quando Forster entende que certos atributos hereditários só poderiam ser implantados originalmente na raça negra, e nas outras seria necessário recorrer a dois troncos originários. Para Kant ao contrário, existem outras peculiaridades que possuem autoridade para justificar tal classificação, como a raça dos hindus e dos brancos.
O grande questionamento de Kant e Forster constitui-se na explicação ou descoberta de como o homem, sendo originário de um tronco único, se transforma e assume caracteres tão diferentes, pois, para Forster, a impossibilidade de uma nova transformação não só pode ser demonstrada a priori, como também coloca em questão sua conclusão acerca de uma origem comum.
Sobre essa discussão, o comentador Daniel Omar Perez escreve[12] que:

O estudo da natureza humana desde o ponto de vista da história natural trata com um destaque especial aquilo que constitui o homem enquanto germes (Keime) podendo vir a se desenvolver naturalmente e que na antropologia a preocupação era fundamentalmente sobre as consequências das predisposições (Anlagen).

Perez propõe[13] que a diferença reside no primeiro caso onde podemos observar um desenvolvimento natural (fisiológico) que derivou em mudanças e adaptações ao ambiente e, no segundo, podemos observar o que o homem conseguiu fazer de si mesmo em meio às adaptações. Desta maneira, no primeiro caso temos causalidade e finalidade naturais e no segundo, interesses e finalidades práticas.
Kant possui um conceito de homem como cidadão do mundo[14], que se caracteriza somente através de um caráter que ele mesmo cria para si, enquanto se aperfeiçoa segundo os fins que assume e que pode fazer de si um animal racional, ou seja, primeiro ele conserva a si mesmo e a sua espécie; segundo, ele a exercita, educando para a sociedade; terceiro, a governa ordenado segundo princípio da razão.

2.        Objetivo

Provar que o debate entre as teorias sobre as raças em Kant e Forster está fundado em diferentes concepções de natureza humana.

3.        Materiais e Equipamentos

Computador, impressora, internet, livros papelaria, biblioteca e biblioteca virtual.

4.        roteiro de atividade do aluno

Com o intuito de garantir o fim pretendido desta pesquisa, dar-se-á os seguintes passos como critérios metodológicos do presente estudo:
1- Leitura e fichamento das obras: Das diversas raças humanas (Immanuel Kant), A invenção do homem (Manuela Ribeiro Sanches e Adriana Veríssimo) e Antropologia de um ponto de vista pragmática (Immanuel Kant), para o desenvolvimento inicial do trabalho, procurando identificar as principais idéias, conceitos e pressupostos filosóficos como ponto de partida;
2- Leitura e fichamento dos comentadores, como J. C. Prichard e D. O. Perez que abordam o problema elucidado nesta pesquisa, com o objetivo de alargar a compreensão e relacioná-los com o tema de estudo:
3- Encontros frequentes com o professor orientador a fim de avaliar os resultados parciais obtidos e sinalizar para outros elementos a serem pesquisados;
4- Elaboração de relatórios de estudo (relatório parciais, resumos e resenhas expondo os objetivos alcançados e os limites da pesquisa).
5- Elaboração do relatório final do PIBIC com apresentação dos resultados em eventos filosóficos


[1] KANT, Immanuel. Das diferentes raças humanas, Lisboa: Lisboa, 2002. p.103
[2] Idem.
[3] Monogenismo – Teoria segundo a qual a humanidade descende de ancestrais comuns.
[4] PRICHARD, James C. Reaserches into the physical history of man. University Of Chicago Press April 1, p. 4. 1973.


[5] KANT in SANCHES.  A invenção do homem – raça, cultura e história na Alemanha do séc. XVIII. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002. p.104
[6] Nos pássaros da mesma espécie, que têm, contudo, de viver em climas diferentes, existem germes para o desenvolvimento de uma camada de penas, no caso de viverem num clima frio; mas estes germes são inibidos quando têm de permanecer num clima temperado. Do mesmo modo que, numa região fria, o grão de trigo tem de ser mais protegido contra o frio húmido do que numa zona seca ou quente, existe nele uma capacidade previamente determinada ou uma disposição natural para produzir gradualmente um revestimento mais grosso. KANT in SANTOS, Manuela. Das Diferentes raças humanas. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002.
[7] KANT in SANCHES. A Invenção do homem – raça, cultura e história na Alemanha do séc. XVII. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002. p.113.

[8] KANT in SANCHES, Manuela.  A invenção do homem – raça, cultura e história na Alemanha do séc. XVIII. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002. p.
[9] KANT in SANCHES, Manuela.  A invenção do homem – raça, cultura e história na Alemanha do séc. XVIII. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002. p. 114
[10] FORSTER in SANCHES, Manuela. A invenção do homem – raça, cultura e história na Alemanha do séc. XVIII. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002. p. 335
[11] KANT in SANCHES, Manuela. A invenção do homem – raça, cultura e história na Alemanha do séc. XVIII. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2002. p.362
[12] PEREZ, Daniel O. A antropologia pragmática como parte da razão prática em sentido kantiano. Antropologia pragmática como parte da razão prática em sentido kantiano. Manuscrito - Revista Internacional de Filosofia, Campinas, v.32, n.2, p. 23, jul. – dez. 2009.
[13] Ibidem .p.23
[14] Kant, Immanuel. Antropologia de ponto de vista pragmático. São Paulo: iluminuras, 2006. p. 216.